quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Lua-de-mel (7)- Vaticano


A caminhada da estação de metrô à praça de São Pedro dura uns 10 minutos. Paramos para admirar a arquitetura da praça planejada por Bernini, o obelisco egípcio bem ao centro e as estátuas de santos que adornam a periferia, são 140 santos no teto. Guardando a frente da basílica, em ambos os lados da praça, estão esculturas enormes de São Pedro e São Paulo. Do lado direito de quem chega está localizada a entrada, com uma fila básica, mas que não demora a andar.
Entramos na basílica e fomos direto para a visita dos túmulos dos papas e do suposto sepulcro de São Pedro. Diz-se que São Pedro foi martirizado naquele local e a mando de Constantino foi construída uma igreja sobre os restos mortais do santo. Na parte subterrânea da basílica, o destaque fica por conta da tumba de João Paulo II.
Eu já conhecia o interior da basílica, mas independente disso, ainda me impressiona as dimensões colossais da igreja. Sentimo-nos muito pequenos diante de tudo aquilo, particularmente do dossel de Bernini, bem no centro da basílica. Os outros destaques ficam por conta da Pietá de Michelangelo e da estátua de bronze de São Pedro, cujos pés são ininterruptamente tocados pelos turistas. Independente da fé professada por eles, fazem questão de tocar os pés da estátua e tirar fotos. Sinceramente, me incomoda essa necessidade de fazer fotos dessa maneira, desrespeitando uma figura tão representativa da fé católica.
Tão fotografada quanto a estátua de São Pedro, mas em virtude da importância da obra, é a Pietá de Michelangelo. A escultura que representa o sofrimento da virgem com Cristo nos seus braços é praticamente perfeita na expressão do sentimento de lamentação do filho morto. Impressionante também é constatar o requinte técnico do artista com apenas vinte e poucos anos. Eu me lembro dos meus vinte e quatros anos e não consigo me imaginar com uma maturidade tão grande para saber expressar de alguma maneira, um sentimento tão delicado quanto esse, ainda mais em se tratando do filho de Deus. Mesmo hoje, aos quarentas anos, penso que sei alguma coisa, mas continuo a anos-luz de um artista como Michelangelo ou Rafael que também alcançou a glória muito novo. Aliás, de Rafael podemos observar um quadro do último período do artista (se não me engano foi a última obra dele) localizado no interior da basílica: A Transfiguração.
Muito cansados demos por encerrada a visita à praça de São Pedro e a basílica homônima e retornamos ao hotel de metrô.
O dia seguinte foi consagrado ao Museu Vaticano. Saltamos na estação de metrô Cipro e fomos andando ao complexo de museus do Vaticano. A mesma suntuosidade da basílica se repete nos palácios papais, onde estão expostas as obras do museu. Durante a visitação, talvez mais importante que o audioguia seja o mapa que o acompanha e um guia-livro do próprio museu que é vendido na entrada. A caminhada é feita em sentido único e sala após sala são visitadas obras diversas do acervo papal. Pode-se dizer que os dois pontos altos da vista sejam as salas de Rafael e a Capela Sistina. Muita coisa do acervo é de importância muito menor, mas como os destaques maiores se localizam quase ao final da visita, pode-se dizer que perdemos um tempo grande e desnecessário com outras obras que acrescentam muito menos. Não chega a ter o tamanho do acervo do Louvre (e nem chega perto), mas é muita coisa para uma visita só. Da viagem anterior, eu me lembrava da sala dos mapas e da Capela Sistina. Mas, dessa visita eu destaco também o torso de Belvedere, pois é uma escultura antiga admirada pelos artistas do renascimento, particularmente Michelangelo, principalmente pelas formas anatômicas bem delineadas, uma característica do trabalho do artista italiano.
Adoro esculturas monumentais antigas e a sala redonda é um prato cheio nesse quesito. No meio desta sala está uma taça gigantesca em mármore ladeada por diversas estátuas enormes de deuses gregos e imperadores romanos. A estátua em bronze de Hércules parece pronta para começar uma briga. Do tipo “está encarando o quê?” (rs). Esta sala me lembra um pouco o hall de entrada de um outro museu na Alemanha, acho que é o Altes, não tenho certeza.
Mas, o destaque do museu, propriamente dito, é mesmo o acervo de Rafael, particularmente a sala da assinatura onde estão localizados os dois afrescos mais importantes: A Disputa e A Escola de Atenas. É admirável o modo como esses afrescos de Rafael combinam de forma tão harmoniosa uma composição com dezenas de elementos. Nas mãos de um atista medíocre ou de um leigo seria um amontoado de personagens buscando de forma infrutífera se socializar. Na representação de um gênio como Rafael é uma ciranda de cores, posições, lugares e pessoas que se complementam e contam uma história, congelada momentaneamente. Talvez nem Michelangelo fosse tão habilidoso para jogar com tantos elementos, pois um dos afrescos sobre Noé também lida com dezenas de elementos na composição e parece menos harmonioso. O próprio Michelangelo mudou de ideia quando percebeu que de um local tão distante como o teto da Capela Sistina, não era interessante trabalhar dessa forma. Mas, a encomenda de Rafael era outra. Os seus personagens também tinham outras representações, não eram musculosos como os de Michelangelo e as composições tinham um conteúdo menos dramático e violento e muito mais convencional. No entanto, é um Rafael e, infelizmente, fiquei menos tempo que queria nas suas salas, pois o tempo era escasso e havia enfrentado uma peregrinação dura anteriormente, que me tirou parcialmente as forças.
Parada para um lanche rápido, após passar pelo setor de arte moderna. A próxima etapa envolve a jóia da coroa: a Capela Sistina.

(continua)

Roberto

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