domingo, 21 de fevereiro de 2010

Irvim D. Yalom


Ganhei este livro de aniversário de uma amiga e adorei!
É impressionante a sinceridade e transparência com que Yalom escreve, descreve algumas fases de seu processo criativo como escritor e comenta casos de terapia. Sem dúvida sua escrita vem revelar muito do que já percebo na prática mas muitas vezes temos a insegurança de expor pois não se encontra nos manuais de psiquiatria.
O que venho percebendo na minha prática clínica é que o interesse em realmente fazer a diferença para melhor na vida de uma pessoa traz resultados gratificantes para os dois, médico e paciente. Quando queremos ajudar, mesmo quando nos sentimos tão perdidos quanto o paciente, buscamos uma solução, seja nos livros, trocando experiência com outros profissionais ou simplesmente seguindo nossa intuição.
Outro livro do mesmo autor que acredito que todo profissional da área 'psi' deva ler é Os Desafios da Terapia, reflexões para pacientes e terapeutas. Traz capítulos curtos e bem didáticos, mas é claro que o caminho como terapeuta é muito pessoal, como uma impressão digital, cada um tem seu jeito próprio de tocar o outro.

Replicadores

Susan Blackmore, num dos capítulos do livro "This Will Change Everything" coloca uma interessante questão. A primeira forma de se replicar uma informação em nosso planeta foi através dos genes, cujas características eram - e são - passadas adiante por meio de veículos, no caso plantas e animais. Até que um desses animais se desenvolveu a tal ponto, que ele próprio se tornou capaz de replicar informações, copiá-las e passá-las adiante. Por meio de máquinas copiadoras, telefone, computadores etc isso se tornou possível. No entanto, hoje vivenciamos a terceira geração de replicadores, que podem fazer as mesmas coisas de forma independente. Como? O que é o Google, ferramenta de procura? Ele depende dos comandos de procura para apresentar uma informação, mas é ele quem determina os resultados. A mesma coisa aconteceu quando comprei um pacote de viagem no mês passado. Quem me apresentou o hotel onde iria ficar hospedado - e do qual não gostei - foi o sistema de procura e marcação de reservas da agência de viagem virtual. Verdadeiramente, esse "terceiro replicador" já faz parte das nossas vidas. Como em outros capítulos do livro, a autora faz conjecturas acerca do que acontecerá no futuro quando esse terceiro replicador não precisar do ser humano para copiar e repassar as informações. Assim como, o que acontecerá quando os computadores conseguirem simular os processos inteligentes do ser humano e posteriormente ultrapassá-lo. A barreira principal é alcançar o nível de inteligência humana, pois a partir daí especula-se que as máquinas serão capazes de aperfeiçoamentos infinitos em direção a superinteligência. Parece coisa de ficção científica, Exterminador do Futuro ou coisa parecida, mas são questionamentos pertinentes, apesar de absurdos no momento atual.

Roberto Mogami

Memórias e internet

Num dos capítulos do livro "This Will Change Everything", Kevin Slavin faz uma crítica ao armazenamento de imagens, sons, vídeos, textos de passagens de nossa vida em ferramentas como o Flickr, Facebook, Youtube etc. Ele afirma que uma das características do ser humano é a capacidade de relembrar fatos e situações, ter lembranças ou esquecer aquelas que nos trazem algum tipo de desconforto. Ele compara as novas tecnologias e comportamentos às pessoas portadoras de anomalias que conseguem se lembrar de absolutamente tudo e por isso vivenciam de forma intensa as mesmas emoções que acompanharam as situações lembradas. Isto é, a vida vira um verdadeiro inferno de lembranças carregadas de emoções.
Eu vejo isso de maneira diferente. Não acho que armazenar todas estas informações traga a mesma carga de emoções, até porque guarda-se aquilo que nos dá prazer. Além disso, encaro estas informações como legados para outras pessoas. Por exemplo, exceto pelas fotos antigas e descoloridas, onde posso rever os momentos agradáveis ou as descrições dos dias em que passei com meu pai quando criança? Quando coloco uma coisa no blog, no Flickr ou ferramentas semelhantes, não estou necessariamente pensando em mim, mas no que alguém como um futuro filho meu vai pensar sobre o pai. Não existem pessoas ou sociedades sem história (s). Triste aqueles que não têm um legado para deixar, uma história para contar, que não podem passar a sua experiência e até mesmo aprender com ela ao rever o que feito no passado.

Roberto Mogami