sexta-feira, 23 de abril de 2010

Aprender a Viver


Agora que terminei este livro, fiquei pensando...Por que "aprender a viver"? É por meio das lições da filosofia que aprendemos um pouco a viver. Ela promove a reflexão do mundo em que vivemos, das relações com o outro e do sentido da nossa existência. Ela nos ensina a viver.

Luc Ferry, ex-ministro da educação francês, se propõe a discutir a filosofia sob um ponto de vista mais didático. Nas suas próprias palavras "como se estivesse escrevendo para sua filha de 15 anos". Mas, longe de ser um texto apelativo, o livro consegue atingir esse objetivo de discutir um tema tão árduo, de uma forma agradável e elucidativa.

As partes iniciais são mais fáceis de serem entendidas.
1- a discussão sobre as 3 dimensões da filosofia: teoria (ver o divino, isto é contemplar o que nos cerca e analisá-lo), ética (as nossas relações com o outro) e salvação (o que nos conforta além da finitude de nossa existência).
2-a visão grega, estoica, de que tudo faz parte do cosmos, de algo maior que a dimensão humana.
3- a derrocada da visão grega após o aparecimento do cristianismo. Deus passa a ser essa dimensão supra-humana, o divino se materializa em Cristo e a nossa salvação virá por meio da ressureição.
4- a revolução científica e o renascimento derrubando os mitos cristãos. A ciência torna-se a grande salvadora, aquela que pode justificar tudo. O homem é o centro do mundo e ganha importância o humanismo.
A partir daí, a coisa complica, literalmente...pois o autor se propõe a explicar Nietszche e sua metralhadora destrutiva que critica os filósofos modernos, o humanismo etc. Depois de Nietszche, discute-se a filosofia contemporânea, o materialismo e a visão própria de Luc Ferry acerca da "salvação". Ele faz uma crítica à filosofia atual que discute subtemas, abandonando indagações centrais, que faziam parte das preocupações de gregos e modernos. O autor enfatiza a importância da singularidade que pressupõe a superação do binômio individual/geral, província/mundo. O uso do pensamento alargado como forma de se atingir essa singularidade, isto é conhecermos os modos de vida de outros povos, suas manifestações culturais, o dia-a-dia; olhar o mundo através dos olhos de outrem, sair de nossa visão limitada do que nos cerca, sem anular nossa essência. Deixar o sentimento amoroso permear toda essa vivência, a fim de aproveitarmos o momento presente, nos libertando de passado e futuro.

Muito válido como introdução à filosofia; o último capítulo contém referências bibliográficas para seguirmos adiante e nos aprofundarmos mais. Uma descoberta e tanto que fiz nas prateleiras da Saraiva.

Roberto Mogami