domingo, 24 de janeiro de 2010

Cirque du Soleil em Montreal

O Cirque du Soleil está no Rio de Janeiro com "Quidam", mas não pretendo ver esse espetáculo, pois o achei muito chato pelo DVD. Entretanto, coloco um relato antigo sobre a primeira vez que assisti a um evento do Cirque:

Estava em Montreal em maio do ano passado (2005). Não havia dado sorte com o tempo, pois chovia e fazia frio, pelo menos era frio para um habitante mortal dos trópicos, como eu. Aquele dia havia sido dedicado a uma visita ao Complexo Olímpico e ao Jardim Botânico. Fiquei estupefato com os variados ambientes que encontrei no Jardim Botânico, a maneira como foram reproduzidos, com detalhes e uma preocupação de mimetizar com fidedignidade cada canto do mundo (Jardim chinês, japonês etc). Estava de olho na hora, pois a noite seria dedicada a um dos pontos altos da viagem: o Cirque du Soleil. Sim, o Cirque em sua terra natal: Montreal.

Quando fiz as reservas dos ingressos no Brasil, a imagem que tinha do Cirque era a do espetáculo que via no Fantástico. Aliás, as poucas informações que tinha, eu sabia dali. Eu não fazia idéia da dimensão e importância daqueles espetáculos e como tudo ocorria nos bastidores para ser apresentado daquela maneira.

O acesso até a área do circo fiz de metrô. Não ficava exatamente perto da estação, mas era o meio de transporte mais prático. Em Montreal - e imagino que aconteça em toda província de Quebec - o francês predomina como língua falada. Pedi informações a uma senhora sobre a localização do Cirque, em inglês. Surpreendeu-me a dificuldade que ela encontrava para se expressar em inglês! Depois percebi que isso acontecia em várias partes de Montreal. Algumas pessoas se comunicavam de uma forma desconfortável em inglês. Vencida essa etapa, cheguei à bilheteria bem cedo para trocar meus ingressos. Incrível, não havia filas enormes ou uma movimentação intensa na entrada. Caso quisesse, poderia ter comprado o ingresso na hora, que provavelmente o acharia. Fiquei pensando “Vão existir lugares sobrando na platéia”. Após a entrada na área física do Cirque, fui encaminhado para uma tenda enorme, que fazia o papel de um saguão onde o povo se aglomerava antes do espetáculo e também para onde ia no intervalo da apresentação. Havia uma lanchonete com todas aquelas besteiras que os americanos e canadenses gostam (doces, balas, refrigerantes, “hot-dogs” etc), além da venda de lembranças do Cirque (CDs, DVDs, camisetas etc). Chovia muito naquele momento e a aglomeração ia aumentando, mesmo com o tempo horrível que fazia. Autorizada a entrada para a tenda principal, fiquei impressionado com o tamanho do espaço físico e a organização do local. Nem parecia que tudo aquilo era montado e desmontado de tempos em tempos nos espetáculos itinerantes como aquele. Aliás, era a estréia mundial de “Corteo”. Tive muita sorte mesmo, pois visitei a casa do Cirque, Montreal, justamente na época em que começava um espetáculo inédito. Dali eles iriam excursionar por outras cidades canadenses e americanas. Mas, voltando às impressões daquele dia, tudo era novidade para mim: uma orquestra posicionada na frente do palco, palhaços que funcionavam como pessoal de apoio colocados no alto de grandes torres e o público que enchia cada vez mais a tenda. “De onde saiu tanta gente?”, pensei comigo mesmo. E, para minha surpresa, não sobrou uma única cadeira vazia antes do espetáculo começar. Mas, após começar..foram momentos de magia que apresentaram. É difícil definir o Cirque du Soleil, pois é uma mistura de dança, acrobacias, teatro, música de alta qualidade, comédia, figurinos fantásticos...A única coisa certa é a história com começo, meio e fim. A forma como ela é transposta para o palco é a mais criativa possível. O ritmo é intenso quase o tempo inteiro e existe um intervalo no meio do espetáculo para descansar a mente do bombardeio de cores, balançar de corpos, revezamento de equipamentos e música de muito bom gosto.

Terminada a apresentação, para variar, tudo ocorreu na mais perfeita ordem como em todos os lugares do Canadá. Sem tumultos, todo mundo saindo com educação e seguindo de forma ordeira para suas casas. No meu caso, para a estação de metrô mais próxima, que, aliás, não era tão próxima assim. Cheguei ao hotel cansado pela programação que tive durante o dia, mas extasiado com o que assiti. Agora sim, fazia alguma idéia do que era o Cirque du Soleil. E me tornei mais um fã deste empreendimento mágico.

Postado em 1/6/2006 por Roberto Mogami

Breve História do Mito


Um dos melhores livros que li este ano. Karen Armstrong disserta sobre a importância da existência dos mitos na sociedade. A função que eles têm como mediadores dos questionamentos humanos sobre sua existência. Através de exemplos muito interessantes, a autora mostra como os diversos mitos cumprem um papel importante no funcionamento da psique humana e critica a sociedade contemporânea pela subvalorização de práticas que eram cruciais para nossos ancestrais.


Com um dos mitos tive uma identificação: a capacidade de voar. Voar representaria a transcendência, a possibilidade de tocar o divino, de ascender aos céus, a um plano superior de existência. Lembro-me claramente de um sonho recente – e que me parecia incompreensível – em que estava voando e era dotado de poderes sobrenaturais. A sensação que esse sonho me trazia era extrememamente prazerosa, assim como são as experiências advindas da vivência desse mito de uma forma geral.


Outro mito interessante e que comentei na entrada anterior do blog é sobre o herói. A função do mito do herói em nossas vidas. A analogia entre o caminho difícil para se tornar um herói e os ritos de passagem, como aqueles de civilizações antigas em que o adolescente é privado do seu dia-a-dia normal e confrontado com experiências assustadoras que o fazem ressurgir como um novo homem, uma pessoa amadurecida que tem um papel novo e importante na sociedade.


Esse mito do herói me faz reviver um pouco a minha vida recente em que, através do esporte, pude conhecer meus limites, fui capaz de me reconhecer como ser humano vencedor, por meio dos sacrifícios que atividade física me impunha para alcançar um objetivo determinado. O prêmio era cruzar a linha de chegada e ter a sensação de realização, de sucesso, de provar a si mesmo que era um herói e capaz de atingir patamar novo de entendimento da realidade.


O advento das grandes civilizações e conseqüentemente das cidades, de uma certa forma, afasta o homem dos deuses e isso é representado, por exemplo, na história de Gilgamesh. Outros mitos, como o do dilúvio, representam o infindável reciclar, reconstruir característico das cidades antigas, notadamente da região mesopotâmica, local que sofria com inundações constantes.

A última parte do livro é uma crítica ao mundo contemporâneo. Destaca o progresso da sociedade ocidental pela incorporação das conquistas advindas da revolução tecnológica e a conseqüente ênfase excessiva no logos (razão). Paralelamente, houve uma depreciação da importância dos mitos na vida do homem. Tudo que não pudesse ter uma explicação lógica era considerado como histórias de mentes primitivas. Portanto, produziu-se um vazio na psiquê humana que é parcialmente preenchido pelas artes: os livros e as artes plásticas, por exemplo. Através de elementos ficcionais, elaboram-se as situações que antigamente eram discutidas pelos mitos. A autora também faz um crítica bastante lúcida à distorção dos mitos modernos - as estrelas pop, por exemplo - que são objetos de pura idolatria ou contemplação passiva e não cumprem o papel mítico dos heróis: servir como um modelo, uma referência.

Postagem de 17/8/2008 por Roberto Mogami

A Partida


Filme japonês do diretor Yajiro Takita que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009. A história de um músico (violoncelista) residente em Tóquio, que volta para sua cidade natal (Yamagata) após ficar desempregado. Por meio de um anúncio de jornal, consegue emprego numa agência funerária. Apesar dos embaraços iniciais, o personagem vai aos poucos aprendendo e admirando sua nova profissão. Uma vocação descoberta por acaso. Uma profissão que exige muita delicadeza, pois lida com a morte, familiares, sentimentos e lembraças próprias. O ritual de acomodação do morto também é de uma beleza e delicadeza impressionantes. O diretor consegue passar toda a carga de emoção e plasticidade do ato de acomodar os que se despedem. O ritual e a interação que existe entre os personagens da história durante o ritual cria imagens de rara beleza e composição. Enfim, um filme para, realmente, se assistir e contemplar, calado, como se estivesse no próprio local observando o protagonista preparar o morto. Serve de inspiração para compreendermos que nossas profissões, quando exercidas com paixão e dedicação, representam arte e rituais também.

Postagem de 22/6/2009 por Roberto Mogami