domingo, 19 de setembro de 2010

O Lugar Escuro




Livro da editora Objetiva, escrito por Heloisa Seixas, esposa de Ruy Castro.
A autora faz um depoimento do progressivo definhamento de sua mãe pela demência senil. O relato é costurado com memórias de infância e adolescência e do convívio com o pai (separado).
O livro não é dividido em capítulos, o texto flui de maneira contínua e descompromissada por um pouco mais de cem páginas.
O depoimento começa com o que a autora chama de marco zero: na visão da escritora quando sua mãe atravessou a faixa que separa a sanidade da loucura. Até aquele momento havia lapsos de atitudes estranhas, mas nada consolidado como um comportamento bizarro e persistente. O texto segue pelas lembranças de Heloísa do casamento da mãe, o favoritismo que existia pelo seu irmão, as diferenças de personalidades entre ela e o irmão, a separação dos pais e a vida sem o marido. Na última parte retorna para a doença da mãe.
O conteúdo do livro é triste, parece um desabafo da autora, uma necessidade de falar para o mundo o que se passou a partir da doença da mãe. Acho que a condição da mãe fez a autora repensar todas as situações mal resolvidas que existiam em relação a família. A demência fez nascer sentimentos de ódio, nojo e pena que Heloisa teve muita coragem em expor. Assim como foi corajoso o relato dos conflitos que existiam com o irmão e as intimidades da vida dos pais. No final fica a reconciliação com o ser humano e a sublimação dos sentimentos contraditórios que a doença suscitou.
A leitura é rápida e descompromissada e o livro pode interessar como um testemunho de um familiar que passa por esse drama na sua vida. Não é uma leitura técnica e tampouco se propõe a ajudar alguém. Mas, é válido como depoimento de uma realidade do mundo moderno. No entanto, acho que falta emoção ao texto, o tema é árido, mas as reflexões não precisam ser tão objetivas.

Roberto

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