sábado, 10 de abril de 2010

Por Que as Zebras Não Têm Úlcera?


Este é o título engraçado do livro de Robert Sapolsky, neurocientista americano, famoso pelo didatismo de suas palestras e difusão do conhecimento científico. É uma leitura muito agradável, esclarecedora e que apresenta evidências ou quase-evidências sobre a importância do estresse em nosso modo de vida. Apesar de ser direcionado ao público leigo, percebi no autor um cuidado grande em não afirmar coisas de forma gratuita ou de colocar em destaque estudos que apenas sugerem uma hipótese que precisa ser confirmada. Mas, uma palavra permeia todo o livro: glicorcorticoides. Ele é o grande vilão da história no livro, ou melhor o excesso de glicorcorticoides.
Destaco duas passagens do texto que achei muito interessantes. Robert Sapolsky também faz pesquisa de campo com babuínos e já os observa e colhe amostras do sangue destes animais há muito tempo. Ele desfaz o mito de que não existe "maldade" no reino animal. Outro dia estava ouvindo um comentário ingênuo do Arnaldo Jabor na CBN, comparando atitudes dos políticos com macacos e sugerindo que os animais não têm a malícia e ganância dos políticos. Ledo engano...Os babuínos se organizam em hierarquias. O macaco 1 é mais forte que o 2, este por sua vez se sobrepõe ao 3 e por aí vai. Portanto, o babuíno número 34 de um clã com 34 machos é o que, provavelmente, mais sofre. Quando o macaco 1 acorda de mau humor e resolve agredir, gratuitamente, o macaco 2 porque não gostou da cara dele naquele dia, o macaco 2 vai descontar em quem? Acertou, no babuíno 3 e este no 4...até chegar no babuíno número 34. Mas, a série de agressões pára nesse ponto? Não, o 34 vai descontar na fêmea, esta agride o filhote, que repassa para o filhote mais novo e assim a cadeia continua. Em outras ocasiões, um babuíno específico é pego para "Judas" pelo chefão. Por quê? Porque na época em que esse "Judas" era o chefão do clã, ele judiava de algum babuíno hierarquicamente inferior e posteriormente, com o envelhecimento e enfraquecimento, ele desceu na escala de poder e foi subjugado por outros babuínos mais jovens. Um deles - o novo chefe -, rancorosamente, decidiu que a vingança é um prato que se come pelas beiradas - que o diga Quentin Tarantino - e já era hora de terminar a refeição. Poucas opções sobram para o ex-chefe, sair do clã e procurar outro grupo é uma delas. Mas, esta decisão é se sujeitar pela floresta sozinho e vulnerável a outros predadores e sem saber como será recebido no outro clã, provavelmente, não será uma recepção das mais amistosas. Alguma semelhança com o nosso mundinho humano?
Outra "historinha" é sobre uma avó e o neto. Eles sempre jogavam banco imobiliário e a vovó ganhava sempre. O neto ficava possesso com isso e decidiu que iria ganhar da avó de qualquer jeito. "Estudou" banco imobiliário, montou estratégias, passou o ano inteiro jogando e esperou pelo momento tão aguardado das férias na casa da avó. A vitória do neto foi magistral e incontestável. Ele exibia um sorriso orgulhoso e triunfante. Foi quando a avó olhou para o netinho e disse: "sabe, o mais importante nessas partidas é que independente do que aconteça ou do que se ache, no final todas as peças vão para dentro da caixa".
Bom fim de semana a todos.

Roberto Mogami

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