quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Demência de Alzheimer

Cada vez mais, fica claro que a medicina deve ser entendida como um conjunto integrado de conhecimentos. Por mais que o conteúdo se torne extenso e sejam necessárias especialidades e subespecialidades, todos os sistemas do corpo se integram e se influenciam. Parece óbvio, mas na prática, isto é no varejo do dia-a-dia , é um tal de procurar cardiologista, neurologista, endocrinologista, neuropediatra etc. Apesar de também ser um especialista - e de uma área muito especializada, a radiologia -, antes de qualquer coisa eu sou médico. Ser médico é ter curiosidade acerca dos assuntos que se relacionam ao bem-estar humano (e isso inclui as áreas fora da medicina), ter compaixão e escutar (antes de tentar ajudar e sair atropelando o paciente nessas tentativas) e ser um educador. Sim, devemos como médicos também usar nossos conhecimentos para educar, somos formadores de opinião.

Tenho me interessado pelas doenças degenerativas ultimamente. Acho que o futuro será dominado por estas condições, reflexo da maior longevidade e do modo como tratamos nosso corpo nos dias atuais. Um artigo do Archives of Neurology (Arch Neurol. 2009;66(3):300-305) discute a ligação entre a doença de Alzheimer e outras demências vasculares com as desordens metabólicas (diabetes, obesidade, hipertensão e dislipidemias).
Primeiro conceito importante. O que é a síndrome metabólica? Ela representa a coexistência de pelo menos 3 das seguintes situações: circunferência abdominal aumentada, hipertrigliceridemia, baixos níveis de HDL, hipertensão (sistólica acima de 140 mmHg ou diastólica acima de 90 mmHg) e hiperglicemia. Na base logística dessa síndrome está a resistência à ação da insulina (como o que ocorre nos diabéticos tipo II).
Constatações interessantes:
1- a memória é afetada pelas concentrações de insulina já que existem receptores para este hormônio no hipocampo e lobo temporal;
2-aumento dos níveis de insulina podem estar implicados na formação dos corpos amilóides presentes na doença de Alzheimer;
3- o diabetes aumenta a possibilidade de aparecimento da demência de Alzheimer ou vascular, independente da idade de início do diabetes, isto é seja ele tipo I (em que há deficiência na produção de insulina) ou tipo II (em que há resistência à ação da insulina);
4- a obesidade é uma causa primária de resistência à insulina (80% dos obesos são insulino resistentes). A obesidade na meia idade é um fator de risco para demência;
5- existe uma associação entre aumento dos níveis de colesterol total na meia idade e risco de demências (exceto as de causa vascular)
6- hipertensão na meia idade também é fator de risco para Alzheirmer e demências vasculares.

Portanto, chama a atenção que a hipertensão, obesidade, dislipidemias e diabetes sejam fatores de risco para demências e principalmente numa faixa etária em que damos pouca importância para essas coisas porque ainda não estamos plenamente doentes, isto é não sofremos com as consequências destas doenças e poderíamos fazer alguma coisa para mudar isso.

Roberto Mogami

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