terça-feira, 15 de setembro de 2009

Meu Pai

Paralelamente aos preparativos do casamento, tive que me preocupar com a doença de meu pai: um câncer de pâncreas em estágio avançado. No início de março, o diagnóstico foi feito por meio de uma tomografia realizada na urgência do Barra D´Or. Aquilo me arrasou, visto que sou radiologista e sabia que o prognóstico do meu pai era muito ruim. Um tumor grande na cabeça do pâncreas, com metástases para o fígado. Devo dizer que durante o tempo da doença, talvez este tenha sido o dia mais triste para mim. Creio que para meu pai foi apenas o início de uma jornada desgastante por hospitais, cirurgias, CTI, transfusões etc. Ele tentava negar a doença, não aceitava que tinha uma condição grave. Fazia todos os tratamentos, mas achava que não tinha nada demais, mesmo após se recuperar milagrosamente das complicações pós-cirúrgicas no CTI. Eu me sentia muito triste por não discutir a doença com ele, pois coloquei como condição fundamental para isso, que ele quisessse saber o que estava realmente acontecendo. Isto só foi acontecer nas últimas semanas de vida, mas aconteceu, felizmente.
A lucidez que meu pai manteve até o último estertor de vida também surpreendeu a todos. Caquético, ofegante, com muitas dores, ele se manteve lúcido o tempo todo. Entendia tudo o que perguntavam e se lembrava de tudo. Alzheimer passou longe dali, com certeza.
As últimas semanas foram de muito sofrimento. As dores tornaram-se constantes, a falta de ar sempre presente e a dificuldade para deglutir também agravava ainda mais seu estado de saúde. Mas, em sua cabeça, ele não queria partir. Por ele, viveria ainda muitos anos para realizar diversas coisas que necessitava fazer. Mas, o sofrimento dos últimos dias isolou-o do cotidiano e fez com que aceitasse que seu momento derradeiro estava próximo.
Ontem ele partiu. Em casa, na companhia da família e das cuidadoras que foram de uma fidelidade incrível a sua pessoa. Quando cheguei ele já estava morto, não pude nem dizer um último adeus. Mas, pelo menos, consegui um dia desses dizer que aquilo que mais me fazia falta eram as idas ao parque nos sábados para jogar bola. Eu era uma criança pequena e por conta do trabalho, meu pai teve que abortar esses passeios que tanto me davam prazer. Ainda sinto o vento batendo em meu rosto ao correr na direção do meu pai. Sinto o movimento das pernas e pés batendo na bola, fazendo-a chegar ao meu pai. Ouço sua voz me chamando e incentivando para chutar mais forte. Sim, seus braços me enlaçam firmes e meu riso ecoa bem alto pelo prazer de sentir seu abraço. São lembranças fortes que vou guardar até o fim da existência.
Eu e a Débora quase cancelamos o casamento em virtude da doença. Com muito custo levamos a frente este projeto e agora, mais do que nunca, dedico essa celebração ao meu pai. Sinto bastante que você não estará fisicamente ao meu lado neste momento de felicidade, mas tenho certeza que de onde você estiver, estarei sendo abençoado em mais este grande momento por que passarei na minha vida.
Adeus. Muitas saudades, meu pai.

4 comentários:

  1. Sinto muito pelo seu Pai... realmente, uma perda muito grande e muito forte... entendo que deve ser um sentimento duplo: a alegria de estar casando e a tristeza por não ter seu Pai neste momento tão feliz... mas tenho certeza que ela estará sempre com vcs, em todos os momentos!!!

    Um beijo e muita força!

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  2. Desejo que você e sua família tenham o conforto e a paz necessária nesse momento. Se a cirurgia e o pós-operatório do seu pai foram no hospital que vc citou tlz eu os conheça,sou enfermeira, sei bem o que são essas situações de doença mas tudo tem um porque e chega ao fim, então agora é lembrar somente do futebol no parque e do amor que existia em vcs.

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  3. Muito obrigado a vocês que comentaram meu post. Obrigado mesmo. O que me conforta (e certamente a minha família tb) demais nessa hora é a solidariedade das pessoas que estão próximas. Isto não tem preço.

    O hospital onde meu pai se internou inicialmente foi o Pasteur. Eu sou médico e sei diferenciar muito bem um bom atendimento de outro ruim. Fiquei supreso com o Pasteur, não sabia que existia um hospital bom, daquele nível, na zona norte. Não tenho reparos a fazer. Estão todos de parabéns.

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  4. Roberto,

    Meus pêsames pelo falecimento do seu querido pai. De onde estiver, seu pai ficará muito feliz com o casamento de vocês, tenho certeza.

    Um abraço,
    Emanuelle Missura

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