segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Attenti al Gatto!


Em nosso primeiro sábado viajando, semana retrasada, tiramos o dia em Sorrento para irmos até a ilha de Capri. Estava frio, porém um dia ensolarado, o que já garantiria o visual do passeio. Fomos caminhando até o porto, que é lindíssimo, e o caminho até ele também. Descemos uma grande escadaria que fazia a ligação até uma ladeira sinuosa por onde passamos caminhando e apreciando a beleza do lugar.
Logo que estávamos chegando , havia um ponto final de ônibus, com um estacionado; comecei a ouvir miados de um gatinho novo, fiquei curiosa para descobrir aonde ele estava. Continuamos a caminhada e eu procurando pelo gatinho, mas não o vi. O Roberto foi comprar as passagens e eu fiquei em uma lojinha me distraindo; ele voltou e fomos juntos passear e tirar fotos para esperar o horário do barco, foi então que vi o gatinho. Ele estava fugindo de um cachorro chato que o estava importunando; para se proteger escondia-se na lataria do ônibus. Eu quis ir até lá, espantar o cachorro e 'salvar' o gatinho, mas o Roberto me conteve, disse que o gato ía me morder e podia ter doenças.. ( sorte da Zaica e da Lobinha que quando as encontrei, estava sozinha!). Fomos para a marina, onde havia uma comunidade de gatos, que ao avistarem um novo transeunte vinham todos correndo em busca de um agrado. Concluí que o gatinho estava desgarrado do grupo, apesar de nele não termos visto outro gato com a sua idade (uns 6-7 meses). Sentei e fiquei adimirando a vista enquanto o Roberto foi tirar mais fotos ali por perto; faltando 5 min para o horário do nosso barco fui procurar o Roberto, já que o seu desligamento dispensa comentários. Olhei em toda a pracinha, e desci as escadas que levavam para o tal ponto de ônibus. Foi aí que, infelizmente, vi a derradeira cena do gatinho. Neste momento o cachorro continuava afligindo o pobre gato, que se refugiou na lataria do ônibus, provavelmente em cima da roda. Não era possível que o motorista , que devia estar ali por perto o tempo todo, não percebeu que ali se encontrava o bichano. Sem dó nem piedade arrancou com o ônibus; foi horrível: ouvi apenas mais um miado apavorado e um 'crack' em seguida. O monstro passou com o onibus em cima do gato. Fiquei chocada! Um senhor em uma motoneta parou e ficou falando e gesticulando, indignado, chamando a atenção do motorista, que seguiu sem olhar pra trás. Olhei aquela imagem e não queria acreditar! Outro senhor se aproximou do gatinho, da distância em que estava achei que a roda havia passado pela parte inferior do gatinho, mas quando cheguei perto vi que a roda esmagou parte da cabecinha do bichinho. Que tristeza, comecei a chorar! Acho que o rabinho dele ainda se mexia; e o bisbilhoteiro do cachorro ainda veio cheirar o gato , também tentando entender o que havia acontecido.
Encontrei o Roberto e chorando contei pra ele o que tinha acontecido! Fiquei realmente muito triste com o ocorrido, por várias vezes durante o dia aquela imagem me voltava e precisava me conter, afinal estava em Capri, com visuais incríveis pra onde quer que olhasse. O mais curioso foi que em Capri, em todas as lojinhas que vendiam badulaques , tipo imãs de geladeira, porta-chaves, etc; tinha vários que traziam a expressão: Attenti al gatto! Com desenhos fofos de gatos. O que me deixou ainda mais revoltada com o ocorrido. Além de tudo fiquei me sentindo culpada, achando que não fiz nada para que aquilo não tivesse acontecido. Até agora me lamento: Puxa, por quê não tirei o gatinho dali!
No nosso último dia em Roma, 5a feira, fomos à Piazza Navona, onde, por acaso, descobrimos que fica a embaixada do Brasil, e seguimos para o Pantheon. Ainda estava cedo e havia lido no guia que havia um lugar na Piazza de la Torre Argentina, em meio à ruinas romanas do lugar de onde Roma era governada, conhecido como Santuário dos Gatos. Pra quê! Contei pro Roberto e saímos serelepes ,naquele finzinho de dia com gosto de despedida, direto à procura da tal Torre. No guia dizia que nesta região havia cerca de 300 gatos, cuidados por um associação de voluntários.
Quando chegamos corri e me debrucei no parapeito, mas avistei apenas meia dúzia deles. No lugar , havia uma grande placa, confirmando o que lera no guia, dizendo que todos estes gatos eram alimentados, castrados, vacinados e que eram testados para a leucemia felina, e que inclusive, o local era “guardado” por câmeras para que novos gatos não fossem abandonados ali.
Fiquei por ali, como quem não quer nada, até que um lindo gato todo cinza (coincidentemente como o de Sorrento), gordinho e limpinho veio me fazer companhia. Durante todo tempo que fiquei ali ele permaneceu em cima da mureta que delimita o local da ruína; chamei o Robert e ele tirou várias fotos, que segundo ele não ficaram boas, mas pra mim ficaram ótimas, melhor ainda era a minha alegria de estar ali com um gatinho a acariciar, matando um pouquinho as saudades das minhas e sarando um pouquinho a ferida do picolino de Sorrento. Assim que saímos, logo retornamos , pois para variar estávamos na direção contrária; o gatito não mais estava ali, e eu do meu jeito, me senti reconfortada por aquela visita especial numa tarde qualquer de um frio outono na cidade eterna.


PS: O melhor lugar para enterrarmos um bichinho,segundo um livro que li, é em nosso coração. É assim que vou guardar a imagem do meu amigo 'picolino' de Sorrento, como um gatinho valente que tentou como pode sobreviver, infelizmente a brutalidade venceu a determinação.

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